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quarta-feira, 11 de abril de 2012

A concha do conhecimento

Socializar o conhecimento tácito é a primeira etapa da criação de conhecimento, tal como foi codificada pelo professor Ikujiro Nonaka. Antes disso, é inútil pensar ser possível seguir as três etapas sucessivas de seu modelo SECI: a Expressão, a Combinação e, finalmente, a Integração de novos conhecimentos. Como seu nome indica, nessa fase inicial a dimensão humana, social e relacional é fundamental. Ela desenvolve-se no contexto do conceito bem japonês de Ba, definido por Nonaka como um “espaço compartilhado em movimento”, e que propomos traduzir por “comunidade de conhecimento”.

Uma comunidade de conhecimento reúne, sobre a base de um interesse comum, atores de naturezas diferentes, de dentro e de fora da empresa, em uma estratégia de produção de conhecimentos operacionais que sirvam a todos os participantes. Esse espaço relacional pode ser físico, virtual ou híbrido e seus componentes concordam, de forma implícita ou explícita, quanto à necessidade de cooperarem para transporem juntos uma fronteira de conhecimento que pode se revelar tão concreta como as características de um produto ou de um serviço existente ou a ser criado.

Mais do que recensear o que é conhecido, o objetivo da socialização consiste em trazer à tona elementos até então não valorizados, nem formalizados e que provêm dessa dimensão tácita crucial para a criação de novos conhecimentos. Para Nonaka, é como se esses elementos estivessem aprisionados na gravitação de práticas individuais não consideradas. Para libertá-los dessa gravidade em que estão encerrados, é necessário estabelecer condições favoráveis que lhes permitam expressão, e a energia reunida para fazer esse foguete decolar vem de relações de confiança sem as quais nada pode ser esperado.

Nessa primeira fase do processo SECI, o objetivo da empresa não é o de captar ou o de verificar hipóteses ou informações que ela já conhece. Mas é de demonstrar dentro dos Ba atenção, disponibilidade e uma grande abertura de espírito ao ponto de parecer não ter expectativas particulares. Querer buscar, de forma invasiva junto a clientes, informações precisas sobre suas opiniões, suas representações, suas expectativas, seus conhecimentos, suas repulsas… terminaria por esterilizar a criatividade desse espaço compartilhado. Equivaleria a incitar uma ostra a se fechar. Uma concha precisa de um ambiente confiável e nutritivo para se abrir; assim que percebe intenções estranhas ela se fecha, e é isso o que deve ser evitado.

Uma comunidade de conhecimento funciona porque é animada por um interesse, por uma bússola que abrange e que excede a necessidade da empresa que participa de seu movimento. Não se trata de uma comunidade de prática que reúne, sobre uma base explícita, profissionais preocupados em compartilhar e melhorar suas competências. Essa distinção é importante. No modelo de Nonaka, ao servir a uma causa que a transcende é que a empresa serve ao seu interesse particular. Dessa forma, ela contribui dentro de uma comunidade orientada para enriquecer os conhecimentos operacionais do conjunto de seus membros cuja heterogeneidade é unificada pelo objetivo comum.

As palavras-chave dessa socialização são empatia e implicação plena ao modo samurai aqui e agora. Somente uma empatia verdadeira permite que “a concha do conhecimento tácito” se abra com confiança até manifestar elementos de que talvez nem tenha consciência. Essa alquimia, essa transformação qualitativa, no sentido asiático do termo, socializa um conhecimento tácito por meio de uma dinâmica de interações contínuas entre pontos de vista, experiências e competências diferentes mas que se encontram em uma mesma causa.

O sentido da implicação plena é um valor bem japonês; ela é absoluta e dedicada. Que isso aconteça em presença ou à distância, convém ser participativo com sinceridade e amor, segundo as próprias palavras de Nonaka, e também evitar a prioris que possam incitar a concha a se fechar. Assim, os funcionários de uma empresa participam de atividades em que seus produtos e serviços são apresentados, vendidos, utilizados, e mesmo, criticados. Isso pode acontecer em pontos de vendas, por meio de relações com redes de distribuição, fornecedores, comunidades de clientes e usuários, sites, internet… enfim, junto a todos os que estão em contato com suas prestações no mercado. Até concorrentes podem ser chamados a contribuir nesse movimento, incumbindo a empresa de assegurar um tempo de avanço no uso inovador dos conhecimentos criados.

Poderíamos dizer que essa primeira fase do modelo SECI preocupa-se mais com questões e incógnitas do que com a gestão de conhecimentos adquiridos. Sua perspectiva é fundamentalmente inovadora; não considera que tudo é conhecido e que nada possa ser aperfeiçoado, otimizado ou introduzido como novidade. Mais do que aplicar um método de socialização, trata-se de implicar-se com franqueza e lealdade a serviço da emergência de um conhecimento nascido das interações.

O conhecimento criado por meio do modelo SECI, de Nonaka, pode trazer um avanço temporal e operacional para a empresa que deve se traduzir de forma concreta. Ele possibilita a posição em situação vantajosa porque é mais justo, em harmonia dinâmica com a formulação de novas necessidades ou de redefinição das antigas. Como no combate entre dois samurais, aquele que sobrevive é o mais justo, pois o perdedor não está mais lá para constatar que se enganou ou que se confinou em uma representação ultrapassada. A mobilização em comunidades de conhecimento não é uma dançarina, um luxo ou um capricho para a empresa. Ela impõe-se como uma necessidade estratégica que deve estimular todos os seus membros, pois dela depende sua sobrevivência!

*. Por: Pierre Fayard é professor titular da Universidade de Poitiers, França, e atual Consul de Cooperação e Ação Cultural na Embaixada da França no Peru. É diretor do Centro franco-brasileiro de Documentação Técnica e Cientifica (CenDoTeC). O Ph.D estará no Brasil em outubro para participar do 10º Congresso Brasileiro de Gestão do Conhecimento (KM Brasil 2011) [www.sbgc.org.br].

SBGC -Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento - Fundada em 2001, a SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento é uma “Organização da Sociedade Civil de Interesse Público” (OSCIP), cujo objetivo é estimular a Gestão do Conhecimento no Brasil. Com esse fim, a instituição reúne profissionais e organizações em um grande fórum de discussão sobre os temas como: inovação e aprendizagem organizacional, colaboração e redes de valor, inteligência competitiva e de negócios, gestão de capital intelectual, economia criativa e trabalho, dentre outros de relevância para a Gestão do Conhecimento.

Pesquisadores como Ikujiro Nonaka (Japão), Tomas Davenport (EUA) e Karl Sveiby (Suécia) contribuíram com muitos dos conceitos que hoje são a base da Gestão do Conhecimento (Knowledge Management). O sistema ganhou grande impulso, a partir dos anos 90, com a crescente importância do conhecimento como recurso estratégico para a geração de valor agregado a produtos, serviços e processos. Hoje, sua disseminação em empresas brasileiras é fundamental para o desenvolvimento e para a competitividade do País. Entre os benefícios das boas práticas de Gestão do Conhecimento estão: ganhos de produtividade, maior capacidade de inovação, maior agilidade, eficiência, lucratividade, competitividade e sustentabilidade.

Atualmente a SBGC conta com doze unidades regionais nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Pernambuco, Santa Catarina, Pernambuco e no Distrito Federal. Entre as suas principais ações está a realização anual do Congresso Brasileiro de Gestão do Conhecimento (KM Brasil), o qual congrega os setores acadêmico, público, privado e terceiro setor em torno debates sobre diversos assuntos de interesse estratégico.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

HOMENAGEM AO MILLÔR

Autobiografia de mim mesmo à maneira de mim próprio
Na sua estreia na revista Veja, em 1968, Millôr Fernandes apresentou-se com o texto que abaixo reproduzimos parcialmente:
“E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas (sic). Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo. Quando me sentei para escrever vinha tão cheio de idéias (sic) que só me saíam gêmeas, as palavras — reco-reco, tatibitate, ronronar, coré-coré, tom-tom, rema-rema, tintim-por-tintim. Fui obrigado a tomar uma pílula anticoncepcional. Agora estou bem, já não dói nada. Quem é que sou eu? Ah, que posso dizer? Como me espanta! Já não fazem Millôres como antigamente! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois, as pontas. Só muito tarde cheguei aos extremos. Cabeça, tronco e membros, eis tudo. E não me revolto. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda com o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar aqui. … Dou um boi pra não entrar numa briga. Dou uma boiada pra sair dela. …Aos quinze (anos) já era famoso em várias partes do mundo, todas elas no Brasil. Venho, em linha reta, de espanhóis e italianos. Dos espanhóis herdei a natural tentação do bravado, que já me levou a procurar colorir a vida com outras cores: céu feito de conhas de metal roxo e abóbora, mar todo vermelho, e mulheres azuis, verdes ciclames. Dos italianos que, tradicionalmente, dão para engraxates ou artistas, eu consegui conciliar as duas qualidades, emprestando um brilho novo ao humor nativo. Posso dizer que todo o País já riu de mim, embora poucos tenham rido do que é meu. Sou um crente, pois creio firmemente na descrença. …Creio que a terra é chata. Procuro não sê-lo. …Tudo o que não sei sempre ignorei sozinho. Nunca ninguém me ensinou a pensar, a escrever ou a desenhar, coisa que se percebe facilmente, examinando qualquer dos meus trabalhos. A esta altura da vida, além de descendente e vivo, sou, também, antepassado. É bem verdade que, como Adão e Eva, depois de comerem a maçã, não registraram a idéia (sic), daí em diante qualquer imbecil se achou no direito de fazer o mesmo. Só posso dizer, em abono meu, que ao repetir o Senhor, eu me empreguei a fundo. Em suma: um humorista nato. Muita gente, eu sei, preferiria que eu fosse um humorista morto, mas isso virá a seu tempo. Eles não perdem por esperar.” Há pouco tempo um jornal publicou que Millôr estava todo cheio de si por ter recebido, em sua casa, uma carta de um leitor que estava assim sobrescritada: “Millôr Ipanema” É a glória!








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Morre Millôr Fernandes



Millôr Fernandes morreu aos 87 anos, de falência múltipla dos órgãos, na noite da última terça-feira, 27 de março, segundo informou o Cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, Rio de Janeiro. Nascido no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923, foi registrado, contudo, em 27 de maio de 1924. Por isso, em diversos lugares, seu ano de nascimento aparece como 1924.
No perfil oficial do escritor no Twitter, uma mensagem postada nesta quarta diz: “o mestre foi… Nosso eterno carinho”.
Biografia
Perdeu o pai dois anos após seu nascimento e a mãe, cerca de seis anos depois. “Tive a sensação da injustiça da vida e concluí que Deus em absoluto não existia”, escreveu, sobre a infância na capital carioca.
Em 1938, deu início a sua carreira de jornalista, como repaginador da revista O Cruzeiro. No mesmo ano, escreveu o conto A Cigarra, ganhou um concurso da revista e foi promovido para o arquivo. Mais tarde, assinava a coluna Poste Escrito, sob o pseudônimo de Vão Gogo. Dirigiu também a revista em quadrinhos O Guri e Detetive, de contos policiais.
Em 1940, começou a colaborar com a seção As garotas do Alceu, como colorista. Em 1942, fez sua primeira tradução literária, do romance A estirpe do dragão, da americana Pearl S.Buck. Em 1946, lançou Eva sem costela – Um livro em defesa do homem, sob o pseudônimo de Adão Júnior. No ano seguinte, sua participação na revista O Cruzeiro já atingia a marca de dez seções por semana. Em alta, encontrou-se com Walt Disney, Vinicius de Moraes, César Lates e Carmen Miranda nos Estados Unidos, em 1948.
No ano seguinte, assinou seu primeiro roteiro para o cinema, com Modelo 19, filme que ganhou cinco prêmios Governador do Estado de São Paulo, entre eles Melhores diálogos para Millôr. Em 1951, lançou a revista Voga, que não fez sucesso.
Em 1955, dividiu com o desenhista americano Saul Steinberg o primeiro lugar da Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, na Argentina. Nesse ano escreveu as peças Bonito como um Deus, Um elefante no caos, que lhe rendeu um prêmio de Melhor Autor pela Comissão Municipal de Teatro, e Pigmaleoa.
Em 1962, na edição de 10 de março de O Cruzeiro, passou a assinar como Millôr. Em 1969, foi um dos fundadores do jornal O Pasquim. Um ano depois, deixa a revista e começa a trabalhar no jornal Correio da Manhã. Em 1974, lançou a revista Pif-Paf, que fechou em seu oitavo número, por problemas financeiros. No ano seguinte, escreveu para Fernanda Montenegro a peça É…, que se tornou o seu grande sucesso teatral.
Em 1996, passou a colaborar com os jornais O Dia, O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Ao longo de sua carreira, escreveu mais de 30 livros em prosa, três de poesia, além de mais de quinze peças para teatro. Depois de colaborar com os principais jornais brasileiros, passou a escrever para a revista Veja, em setembro de 2004. Deixou a revista em 2009.