Nesta sexta-feira (18/06/10), dia de sua morte, o blog traz "Pensar, pensar", uma pequena reflexão do autor sobre a sociedade atual.
- "Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem idéias, não vamos a parte nenhuma".
Repercussão da morte do escritor português José Saramago
Prêmio Nobel de Literatura
'Sua morte foi uma grande perda para a literatura mundial', diz Moacyr Scliar.
Saramago morreu aos 87 anos em 18/06/2010
A morte do escritor português José Saramago, nesta sexta-feira (18), aos 87 anos, mexeu com colegas de profissão e admiradores famosos. A Academia Brasileira de Letras, onde Saramago era sócio correspondente, decretou luto. A bandeira da ABL ficará hasteada a meio mastro na sede da academia por três dias.
João Ubaldo Ribeiro, escritor:
"Para mim, representa a perda de um bom camarada. Nós nos dávamos muito bem acho que não nos tornamos amigos próximos por falta de convivência. Para a literatura portuguesa — a literatura do mundo contemporâneo, aliás — representa a perde de um de seus maiores escritores em todos os tempos."
Moacyr Scliar, escritor:
"Eu recebi com muito pesar a notícia da morte do Saramago, de quem eu era leitor, admirador e colega na Academia Brasileira de Letras, local em que ele foi eleito membro correspondente mas não chegou a tomar posse. Fui muito amigo dele, convivi com ele quando ele visitou Porto Alegre. Sua morte foi uma grande perda para a literatura de lingua portuguesa e também para a literautura mundial."
Luiz Schwarcz, editor no Brasil e amigo de Saramago:
"No Brasil, o lançamento de 'Jangada de pedra' foi uma festa interminável. Filas enormes na livraria Timbre e a efusão de beijos e abraços no escritor fizeram-no exclamar, 'Luiz, esta gente quer me matar de amor'. Daí para frente, esse amor dos brasileiros por José Saramago só cresceu, suas visitas se tornaram mais frequentes, e vários dos últimos livros lhe ocorreram em viagens pelo país, nas quais estávamos juntos. (...) Agora só quero me despedir mais uma vez de José. Com as melhores lembranças, o amor, e minha saudade. Maldita palavra, tão portuguesa, que agora ficará associada ao meu amigo. Mas saudade não tem remédio, não é, José?".
Fernando Meirelles, cineasta, que adaptou 'Ensaio sobre a cegueira' para o cinema:
"[Ele] dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Combatia as religiões com fúria, dizia que elas nos embaçam nossa visão. (...) Mesmo assim não consigo deixar de pensar que adoraria que neste momento ele estivesse tendo que dar o braço a torcer ao ser surpreendido por algum outro tipo de vida depois desta que teve por aqui."
Marcos Vinicios Vilaça, presidente da ABL:
“A Academia estava aguardando a informação de quando José Saramago viria ao Rio para providenciar a organização da sua posse na Cadeira 16 de Sócio Correspondente. A notícia nos deixou em estado de enorme tristeza. A próxima sessão acadêmica, quinta-feira que vem, dia 24, na ABL, será dedicada à memória do grande escritor português, por quem sempre tivemos o maior respeito e admiração."
Ana Maria Machado escritora:
"As letras brasileiras se associam à dor de seus leitores por todo o mundo, lamentando sua partida e celebrando sua literatura que permanece. Um sábio, um grande escritor, um ser humano de primeira grandeza."
Eduardo Galeano, escritor uruguaio:
[Quero dizer,] "simplesmente, que neste mundo há finais que também são começos, mortes que são nascimentos. E é disso que se trata (...) Ele foi embora, mas ficou entre nós."
Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil:
"José Saramago contribuiu de maneira decisiva para valorizar a língua portuguesa. De origem humilde, tornou-se autodidata e se projetou como um dos maiores nomes da literatura mundial. Recebeu o Prêmio Camões, distinção máxima conferida a escritores de língua portuguesa, e o Prêmio Nobel de Literatura. Nós, da comunidade lusófona, temos muito orgulho do que o seu talento fez pelo engrandecimento do nosso idioma. Intelectual respeitado em todo o mundo, Saramago nunca esqueceu suas origens, tornando-se militante das causas sociais e da liberdade por toda a vida. Neste momento de dor, quero me solidarizar, em nome dos brasileiros, com toda a nação portuguesa pela perda de seu filho ilustre."
Letícia Sabatella, atriz:
"Conhecia Saramago pessoalmente. Interpretei dois personagens dele, na peça 'Memorial do convento' e no lançamento do livro dele 'As intermitências da Morte', em que eu encarnei a Morte. Ele me disse que eu fiz bem a Morte. (...) 'Memorial...' é um documento crítico e irônico."
Thiago Lacerda, ator:
“A perda do Saramago é irreparável para a literatura mundial, e principalmente para a literatura dos países de língua portuguesa. Eu o conheci pessoalmente quando da temporada do espetáculo 'O Evangelho segundo Jesus Cristo', em Lisboa. Levarei para sempre a lembrança da autoridade que ele tinha pessoalmente, assim como o brilhantismo eterno de sua obra.”
Zeferino Coelho, editor das obras de Saramago em Portugal:
“Saramago deixou um monumento literário imponente. Do ponto de vista de Portugal, podemos comparar sua obra com a de Fernando Pessoa. Saramago sempre teve linhas próprias. Não há diferença entre o Saramago escritor e o cidadão.”
Aníbal Cavaco Silva, Presidente de Portugal
"Escritor de projeção mundial, justamente agraciado com o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência de nossa cultura (...) [A realização das cerimônias fúnebres de Saramago em Portugal] é um imperativo e uma honra para o país, que tem de reconhecê-lo e valorizá-lo" (...). [O escritor era] uma grande figura da literatura mundial".
José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal:
"É uma perda para nossa cultura."
José Luis Rodríguez Zapatero, Presidente do governo espanhol:
"Nós, espanhóis, choramos hoje a [morte de] Saramago como se fosse um dos nossos (...) que nos enriqueceu com seu olhar compassivo e lúcido. A balsa de pedra que ele contou, a que une além das fronteiras Espanha e Portugal, sente a perda de uma de suas vozes (...) mais preocupadas com o [ser] humano (...) espanhóis e portugueses compartilham hoje a mesma dor, mas também o exemplo que seu legado de solidariedade, de inteligência e afeto."
Juca Ferreira, ministro da Cultura:
“A sua perda é recebida com muita tristeza, particularmente pelos que têm apreço pela língua portuguesa e por sua importância cultural em tantos continentes. O Ministério da Cultura do Brasil se soma aos que lamentam e manifestam a dor pela perda desse grande escritor.”
Fotógrafo Sebastião Salgado:
"O Saramago foi um amigo, uma pessoa que eu respeitava demais. Fizemos muitas coisas juntos, inclusive o livro 'Terra', que foi lançado no Brasil (...) Ele sempre foi um militante, um homem de esquerda, comprometido com todas as causas sociais, principalmente de Portugal e do Brasil. Sinto profundamente. É uma perda muito grande."
Lista de livros de JOSÉ SARAMAGO já publicados:
Romances
"Terra do pecado" (1947) "Manual de pintura e caligrafia" (1977)
"Levantado do chão" (1980) "Memorial do convento" (1982)
"O ano da morte de Ricardo Reis" (1984) "A jangada de pedra" (1986)
"História do cerco de Lisboa" (1989) "O Evangelho segundo Jesus Cristo" (1991)
"Ensaio sobre a cegueira" (1995) "Todos os nomes" (1997) "A caverna" (2000)
"O homem duplicado" (2002) "Ensaio sobre a lucidez" (2004)
"As intermitências da morte" (2005) "As pequenas memórias" (2008)
"A viagem do elefante" (2008) "Caim" (2009)
Peças teatrais
"A noite" "Que farei com este livro?" "A segunda vida de Francisco de Assis"
"In nomine dei" "Don Giovanni ou O dissoluto absolvido"
Contos
"Objecto quase" "Poética dos cinco sentidos - O ouvido" "O conto da ilha desconhecida"
Poemas
"Os poemas possíveis" "Provavelmente alegria" "O ano de 1993"
Crônicas
"Deste mundo e do outro" "A bagagem do viajante"
"As opiniões que o DL teve" "Os apontamentos”
JOSÉ SARAMAGO – 18/06/2010