Galeno Amorim - 18/11/2009
Maria Luiza tem uma vida típica da mulher brasileira de classe média. Tem duas filhas, cuida da casa e trabalha fora. Quando sobra um tempo, está sempre à cata de alguma programação cultural – e tem achado coisas boas, que custam nada ou quase nada. Mas que poucos conseguem desfrutar. Por puro desconhecimento. Em outras horas, ela está rodeada de livros. Como a maioria dos brasileiros, dá um duro danado pra sobreviver. Roda boas dezenas de quilômetros por dia para ir ao trabalho. Lá, atende principalmente crianças de classe média que não vão bem na escola. Por que? — Principalmente porque não têm o hábito de ler... – ela responde, de pronto. Ela sabe como os livros podem mudar a vida das pessoas. Seja o que elas forem fazer na vida. Por isso, tratou de cultivar nas suas meninas o valor da leitura – uma acabou indo estudar filosofia numa universidade federal e a outra está a caminho da faculdade. Nas horas de folga, Maria Luiza às vezes vira leitora voluntária. Vai ler histórias para idosos ou crianças em hospitais. É ela quem diz: — Filhos miram-se nos exemplos dos pais. Se os pais não dão bola para os livros... Metade dos 95 milhões de brasileiros que leram pelo menos um livro nos últimos meses tomou gosto pela coisa por influência da mãe. Muito mais do que da professora. E um entre cada três leitores atuais foi tocado pelo pai. O que mostra uma coisa. Há papéis e trabalho pra todo mundo nessa história se queremos mesmo ter uma cidade e um país de gente que lê: para governos, escolas, escritores, editores, livreiros e... pai e mãe. PS: Por pura bobeira, dia desses a coluna deu uma escorregadela. Trocou décadas por séculos. O resultado final foi uma esquisitice só, logo notada por leitores atentos: saiu que a personagem em questão passara oito séculos da sua vida dedicando-se ao trabalho. O certo é que foram oito décadas. O que, a bem da verdade, também não é pouco para uma vida só...
(Reprodução autorizada mediante citação da 'Brasil que Lê - Agência de Notícias')